Há um quê de tonalidade política, de novos partisans à flor da pele, sim, mas é ilusão imaginar que apenas pessoas de esquerda sintam saudade do que perderam — os países do antigo bloco soviético têm lugares espetaculares, que parecem ter sido postos em formol, e quase sempre a preços muito mais convidativos do que os praticados na Europa Ocidental, por exemplo. “A nostalgia das viagens não é exatamente o desejo de retomar os antigos sistemas, mas de dar algum sentido à falta de estabilidade e de propósito que sucedeu à derrocada dos governos no fim dos anos 1980”, diz a antropóloga americana Katherine Verdery, especialista em memória pós-socialista. “O que era ideologia se transformou em repertório emocional que expressa tanto a perda quanto a permanência.” Um espectro ronda a Europa, com ar vintage — e, no fundo, no fundo, vai-se ao casarão exagerado dos truculentos Ceaucescu como quem conhece o Palácio de Versalhes, de onde Luís XVI saiu forçado pelo povo que o levaria à guilhotina.
Author: Fábio Altman
Published at: 2025-12-14 11:00:56
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