Bastava-lhe entrar numa sala, e a sua beleza era tudo menos vulgar, tinha uma qualidade etérea, e ao mesmo tempo ferina, era um ator que passava bem por estrela de rock, e o facto é que Hollywood tem um problema com os seus atores, que tudo fazem pelo sucesso, deixando sempre a sensação de que não passam de aspirantes, enquanto ele tinha aquele ar de um anjo acorrentado a um poste no inferno. Daí a natureza da sua carreira, essa indagação sobre as possibilidades que tem um artista de testar as suas capacidades, e, hoje, voltando atrás, mesmo se os filmes não se aguentam, no meio de toda a pompa vemos um tipo que está realmente comprometido, e que luta com as convenções para exprimir o lado absurdo mas também essa candura de quem quis transmitir algo de profundo. Kilmer pareceu realmente ter ressuscitado Morrison, e se o filme não impressiona assim tanto, não conseguimos tirar os olhos dele, e sentir que ele trouxe de volta aquele grau de abandono, de perigo e de energia sensual e psicadélica que fez com que o líder daquela banda parecesse um xamã num ritual tão drástico, cativante e catártico.
Author: Diogo Vaz Pinto
Published at: 2025-04-06 17:02:55
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