Uma injustiça que brada aos céus

Uma injustiça que brada aos céus


No entanto, o excesso de zelo de alguns pastores, talvez mais sensíveis à opinião pública do que à verdade e caridade, também foi causa de graves injustiças, nomeadamente em relação às vítimas das falsas vítimas, ou seja, aos sacerdotes que, à boleia da generalizada suspeição de culpa do clero, que inverteu a presunção de inocência, se viram injustamente caluniados e, o que é pior, totalmente abandonados e desprotegidos pelos seus pastores. Apesar dos mais de 60 anos de impoluta vida sacerdotal, sem nenhuma leve sombra que a maculasse, o então bispo diocesano, recebida essa gravíssima acusação, em vez de lhe dar o seguimento que seria de justiça, nomeadamente em virtude da presunção de inocência, a aceitou como se fosse um facto provado, ofendendo o pobre sacerdote que, para além do sofrimento infligido pela calúnia de que fora alvo, padeceu ainda a ultrajante desconfiança e desconsideração de quem, por o conhecer há tantos anos e, sobretudo, ser o seu pastor, esperava palavras de amizade e de ânimo. Já alguma vez disse que o juiz iníquo da parábola (Lc 18, 1-8) era, certamente, português, pela sua demora em resolver os casos que lhe eram submetidos, pecha que infelizmente caracteriza a administração da justiça civil no nosso país… Quero crer que a justiça eclesiástica, já que foi a única a reagir com prontidão e determinação contra o flagelo da pedofilia, seja também, neste caso, exemplar, pois não é apenas iníquo o juiz que decide injustamente, mas também aquele que, por não temer a Deus nem respeitar os homens (Lc 18, 2.4), não faz atempadamente a justiça que deve.

Author: P. Gonçalo Portocarrero de Almada


Published at: 2025-11-01 00:17:08

Still want to read the full version? Full article