Um cavalo com uma seta na testa — ou o teatro de Stoppard

Um cavalo com uma seta na testa — ou o teatro de Stoppard


Em Rosencrantz e Guildenstern estão mortos, a peça que Tom Stoppard escreveu aos vinte e seis anos e que o empurrou, por assim dizer, para o palco da fama mundial, as duas personagens do título, abreviadas para “Ros” e “Guil” no texto, passam um tempo doido a jogar ao cara-ou-coroa. Sofrem o suspense de cada vez que atiram a moeda ao ar, deixando leitores e espetadores também em desequilíbrio e mostrando, sem a necessidade de discursos meta-teatrais, que muito do prazer do teatro vem de este poder ser o lugar onde todas as coisas têm a sua primeira vez. Nas mãos de Tom Stoppard, esta ideia de jogo pode ganhar formas diferentíssimas: atirando secundários shakespearianos para o baldio de Beckett (no caso de Rosencrantz e Guildenstern estão mortos), atirando leitores e espetadores para o tabuleiro burocratico-administrativo do parlamento inglês (Dirty Linen) ou atirando ao ar as convenções de géneros mais convencionais, como o policial (The Real Inspector Hound).

Author: Jacinto Lucas Pires


Published at: 2025-12-14 11:01:40

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