A peça, embora tenha uma personagem inspirada em Syd Barrett, e uns imitadores dos Velvet Underground ou de Frank Zappa, não é uma ode à música, mas uma homenagem aos resistentes checos, entre os quais um amigo de Stoppard, o também dramaturgo Václav Havel (Tom Stoppard nasceu Tomás Straüssler em Zlín, Checoslováquia, a família fugiu à guerra da Europa e depois à guerra no Pacífico, instalou-se mais tarde no Reino Unido, e ele tornou-se mais inglês que do que os ingleses, não fossem o sotaque e os RR enrolados). O que me interessou em “Rock 'n’ Roll” foi a possibilidade de um teatro de ideias que fosse tudo menos didáctico, e de um texto reticente mas com emoções subentendidas (um Brecht às avessas, se quiserem). E fascinou-me a capacidade de dar voz e dignidade a diferentes ideias, mesmo as mais contrárias às do autor, a abundância de referências perfeitamente calibradas, o brilhantismo verbal e o humor culto (“que fazer?”, pergunta o académico comunista enquanto põe a mesa, e um jovem que o ajuda, menos versado em leninismo, diz “agora são os garfos”, ou algo assim).
Author: Pedro Mexia
Published at: 2025-12-08 19:00:00
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