Quanto tempo é necessário para subverter as instituições?

Quanto tempo é necessário para subverter as instituições?


Sim, podem levar a concluir isso os recrutas barbudos e com cabeleiras a pedir pente, já que a tesoura fora banida, ou o atrapalhado discurso feito nesta cerimónia por uma jovem apresentada como “operária da Comissão Coordenadora das Comissões de Moradores e Comissões de Trabalhadores da 7ª Zona”, mas, sendo também isso, o chamado juramento revolucionário de bandeira é muito mais que isso: o acontecido a 21 de Novembro de 1975 no quartel do RALIS mostra-nos como num curto espaço de tempo podem ser subvertidos os homens e as instituições. O comandante do RALIS, o mesmo que na sua intervenção faz a apologia das comissões de soldados a da sua ligação às comissões de trabalhadores, moradores e conselhos de aldeia, com vista à manutenção da consciência revolucionária, o tenente-coronel Leal de Almeida, é um antigo instrutor de comandos cujo empenho revolucionário levará a que fique não só associado a este juramento de bandeira como ao período em que no RALIS se torturam civis e militares como Marcelino da Mata. Nesse curto espaço de tempo o país deixou de falar de revolução e descobriu que o custo de vida não parava de crescer, que ao país continuam a afluir milhares de retornados, que os crimes ditos comuns eram praticados com armas de guerra e que à RTP afluíam pedidos para que voltassem a ser exibidos “A Canção de Lisboa” e a “Aldeia da Roupa Branca” (não sei se a tese da vacina contra o comunismo tem fundamento mas tenho a certeza que a programação da RTP em 1974 e 1975 tornou milhões de portugueses alérgicos a tudo o que não fosse cinematografia comercial).

Author: Helena Matos


Published at: 2025-11-23 07:32:32

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