Foi um longo processo a aceitação de que um branco estivesse autorizado a cantar uma música de Robert Johnson, e com razão: somente quando a segregação virou uma pauta marronizada é que, por exemplo, Elvis Presley foi autorizado a pular a janela do pub na Beale Street, em Memphis, para conviver com B.B. “No morro do 18, vários não passou dos quinze/ O medo tá assombrando o povo que vem da Rocinha/ Mais de quinze morto pela chacina/ Presente do Dia da Mãe é ter o filho morto pela esquina/ E hoje não tem final feliz porque mais um se foi/ Político safado protegido pela lei/ O galo canta, mas não canta mais no Cantagalo/ Quem mandou matar Marielle? Enquanto o problema das drogas seguir sendo tratado como objeto de repressão penal — e não como um problema de saúde pública, como seria o correto — seguiremos testemunhando prisão de artistas ao argumento de que sua obra desnuda a triste e frágil essência do poder punitivo.
Author: Andrei Zenkner Schmidt
Published at: 2025-06-10 11:00:56
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