A segunda é que estou feito um jarreta: gasto tempo com picuinhices como os tempos verbais do serviço de mesa e só tenho queixas de velho, como já verão (terceira pessoa plural do futuro do indicativo de ver, homónima da estação do ano situada entre a primavera e o outono). De entrada, também, uma belíssima manteiga, muito cremosa, que me pareceu batida de natas; um pão sério, fermentação lenta, ácido e bem cozido; uns Padrón cheios de sabor e viço, servidos com maionese de miso, bom toque caramelizado a contrastar com o picante dos pimentos; e uns ótimos croquetes de camarão, os bicho a desfiar no recheio, novo apontamento de maionese a fazer cobertura, o conjunto um nadinha adocicado, mas irrecusavelmente guloso. A corrente de ar nas costas, o banco que é duro, a mesa que é curta, o timing que é errado, a acústica que é péssima, a chinfrineira que é grande — tudo queixumes arcaicos de dois maduros que acham que o mais importante é mesmo o que está no prato, mas que sem o conforto da experiência não estão para sair de casa.
Author: Arnaldo Valente
Published at: 2025-05-20 14:19:39
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