Numa Rússia onde a realidade já não sustenta a grandeza prometida, e onde a nostalgia soviética foi reciclada em versão imperial kitsch, a única alternativa ao colapso do sonho é prolongar indefinidamente a agressão, mesmo que à custa da ruína nacional, à espera que os adversários se ponham de joelhos, como a confraria dos ex-KGB acreditava que iria suceder. Desde 2022, quando falhou a blitzkrieg inicial, a Rússia reviu a sua doutrina de vitória: agora só lhe resta a atricção prolongada, o desgaste humano e logístico da Ucrânia, o cansaço político do Ocidente, a saturação mediática, e a desmoralização da resistência ucraniana. No fim, a verdadeira pergunta não é se haverá cessar-fogo, mas se ainda há quem leve a sério a ideia de que Vladimir Putin, o homem que usa tratados como papel reciclável e faz da guerra uma ferramenta de governação, vá deter-se por boa vontade ou tinta num papel.
Author: José António Rodrigues do Carmo
Published at: 2025-05-17 23:19:48
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