Para acabar com a chantagem da dívida

Para acabar com a chantagem da dívida


Scott Bessent, secretário do Tesouro de Donald Trump, aparece na Fox News (13 de agosto de 2025) e, com a descontração que já é habitual no novo poder americano, solta a sua bomba: as poupanças dos não-residentes investidas nos Estados Unidos poderão, em parte, ser reunidas numa espécie de «fundo soberano interno» à discrição do governo — do presidente —, que decidirá como bem entender a sua alocação aos setores que este quiser desenvolver. No do desenvolvimento de certos setores industriais considerados estratégicos, no caso bizarro dos Estados Unidos de Trump, e com aplicação seletiva apenas às poupanças de não-residentes — já que, nem é preciso dizê-lo, a liberdade de investir dos cidadãos americanos é inalienável… Foi esta última cláusula restritiva que induziu em erro até mesmo as mentes mais perspicazes, levando-as a ver na ideia de Trump-Bessent apenas uma grosseira encarnação do «colonialismo financeiro», acompanhada por uma humilhação adicional infligida na ordem económica aos europeus, vassalizados pela captação intermediada de poupanças. Segundo uma anedota agora bem conhecida, James Carville, que foi diretor de campanha de Bill Clinton e que não era exatamente um novato em matéria de relações de forças, declarou que, se tivesse de reencarnar, gostaria que fosse no «mercado obrigacionista» — onde acabou por compreender que estava o verdadeiro poder: o local de um poder superior ao dos Estados, uma vez que os investidores, pela sua reação coletiva, estabelecem as condições, nomeadamente as taxas, em que a dívida pública pode ser emitida.

Author: Frédéric Lordon


Published at: 2025-10-06 14:07:24

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