Na obra trazida ao país pela Editora Mundaréu e traduzida por Fernando Klabin, podemos mirar o crepúsculo sanguíneo da capital romena de uma janela em um edifício cinzento, percorrer seus subterrâneos habitados por máquinas e criaturas estranhas (aos nossos olhos), conhecer um grupo de manifestantes que não aceitam a morte e, de cartaz em punho, bradam contra ela… Para quem acha que a Romênia, essa nação distante na Europa Oriental de língua latina, se resume a lar do conde Drácula, Cărtărescu (com esses acentos em consoantes tão esquisitos a quem fala português) expõe outro mundo, mais diverso, terno e vívido, mas também mais angustiante e obscuro – porque a terra que ele nos convida a visitar (e a se encantar) tem fundações literárias. Sem a competência de um crítico literário, eu diria que a obra toda de Cărtărescu poderia ser caracterizada como o relato da viagem, ininterrupta, do ser humano por dentro de si mesmo, durante a qual ele revela, sem pudor, seus medos, vulnerabilidades e dores mais profundas.
Author: Diogo Sponchiato
Published at: 2025-04-14 20:00:15
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