O meu passado de atleta me credencia a morrer dormindo

O meu passado de atleta me credencia a morrer dormindo


E ser encontrado pela diarista de coluna torta, a segurar o frasco de Diabo Verde numa mão e o escovão na outra. Esticando o pescoço, farejando com os seus focinhos o cheiro da morte, para dar uma última espiadela sobre o corpo inerte, detonado pelo tempo, de um indivíduo ilibado, com sobrancelhas feitas, que, com toda certeza, vai fazer muita falta. A minha alma tresloucada, desencarnada pelos caninos brancos desse mundo cão, haverá de entrar pelo cano do falecimento, rumo ao Além, para vazar solitária, condoída, saudosa de um bola-gato, de um Fla-Flu, de uma emenda impositiva pingando na conta, numa tentativa infrutífera de se impor, antes de jazer perplexa e cansada numa grota enigmática concebida pelo Criador do Universo.

Author: Eberth Vêncio


Published at: 2025-07-14 22:55:44

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