O declínio da cultura geral no século XXI

O declínio da cultura geral no século XXI


Ora, na sociedade da informação e do conhecimento, a população jovem é uma porta de entrada fundamental para o domínio efetivo da linguagem e a cultura geral e essa é a razão pela qual não podemos permitir que seja canibalizada pelas redes sociais, os mercados e os aplicativos para todos os gostos, que condicionam e limitam a nossa e a sua liberdade de acesso, usufruto e criação. Em terceiro lugar, é preciso ultrapassar a fronteira entre os profissionais e o público recetor e, ao mesmo tempo, contrariar a desinstitucionalização da cultura, pois o público é um corpo plural e diferenciado com diferentes graus de interação que ocorrem de múltiplas maneiras; ou seja, é necessário recuperar o sentido de mediação, de plataforma colaborativa, de cooperação multiterritorial e entre gerações e, dessa forma, repolitizar a função social das instituições culturais na boa direção. Em quarto lugar, sabemos como a funcionalização da cultura, a sua setorização, mantêm a educação e os media separados da cultura; tem de existir cumplicidade entre todas estas áreas para haver uma valorização da cultura e maior capacidade crítica dos cidadãos, ou seja, é necessário que o problema do acesso à educação e cultura não se reduza à população jovem, mas se estenda, também, às suas famílias (tantas vezes tóxicas), às escolas (tantas vezes agressivas), aos serviços públicos (tantas vezes burocratizados), aos profissionais setoriais (tantas vezes de pendor corporativo), aos meios de comunicação (tantas vezes limitados e condicionados); esta é, também, a razão pela qual uma reforma programática no sistema de ensino e educação com esta amplitude precisa de ser solenemente anunciada, pois todos aqueles atores têm de estar diretamente envolvidos neste compromisso interpares e, desse modo, assumirem uma responsabilidade partilhada.

Author: António Covas


Published at: 2025-11-15 00:06:33

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