O então Concerto da Europa, no qual os estados mais poderosos aceitaram e reconheceram as esferas de influência dos restantes, transformou-se agora num concerto do mundo, ou num concerto de Trump, com o presidente dos EUA preparado para, com a China e a Rússia, dividir o planeta em blocos dentro dos quais cada um destes três domina sem oposição dos outros dois. A partir do momento em que os norte-americanos reconhecem que a sua vontade não se impõe aos outros em todos os lugares, mas que terá de ser negociada por via diplomática, o tempo da sinalização de virtude feita com a força das armas tem os dias contados. Assim, é provável que a Rússia pague na Ásia Central a sua tentativa de expansão para ocidente, bastando para isso que a China decida cobrar pelos favores prestados; a qualquer altura um dos blocos ganha preponderância sobre os demais e vai querer tirar partido da sua vantagem; será perfeitamente natural que a Índia reclame a sua quota-parte de influência e a EU ainda pode ultrapassar os constrangimentos que a limitam, caso se atenuem as diferenças entre o endividamento francês e a contenção orçamental alemã.
Author: André Abrantes Amaral
Published at: 2025-06-28 23:18:00
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