Desde a mitologia grega, a Cleópatra ou Anna Karenina, é sempre o amor que as trai, e, por isso, a partir de certa altura, de forma a libertar-se desse fatalismo amoroso, o que se exige à heroína não é sempre uma grande paixão, mas antes um sentido firme da realidade, uma curiosa mistura de independência e honra, uma aceitação das consequências que põe a coragem à prova. Maria José Palla parece ter vivido assim, não como uma figura grandiosa que se tenha abandonado aos estigmas da sua época, mas como alguém que enfrentou o tempo, o corpo, a memória e a própria arte com um olhar obstinado e inquieto, um compromisso que não se curvou perante os moldes fáceis do reconhecimento ou do conforto. Filha de pais artistas, a pintora Zulcides Saraiva e o arquiteto, fotógrafo, editor e designer Victor Palla, esteve exilada em Paris durante a ditadura portuguesa, e ali estudou fotografia e cinema com Jean Rouch, história da arte na École du Louvre, aprofundou também a literatura, sobretudo o teatro do Renascimento, Gil Vicente, a pintura portuguesa dos séculos XVI e XVII.
Author: Diogo Vaz Pinto
Published at: 2025-08-02 17:30:00
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