A fotógrafa que trocou as belas-artes e o trabalho conceptual por uma abordagem cúmplice do submundo de Manhattan, captando a boémia e a decadência glamorosa da cena punk durante a década de 70 e o início da seguinte, morreu na passada quinta-feira num centro de cuidados paliativos. O seu nome permanece inscrito a negro e prata no altar profano onde se cultuam os deuses marginais do punk, tendo mergulhado no underground da baixa de Manhattan numa altura em que Nova Iorque saía a cambalear da sua crise fiscal, e ela parecia infiltrada, pois se assumiu uma persona excêntrica, como refere o The New York Times, com «o uniforme punk-Lolita – saias plissadas de colegial, meias acima do joelho e botas de combate, totós com fitas e olhos borrados de khôl –, levava a sua arte e a sua missão muito a sério». Continua a mostrar tudo o que a cultura prefere esconder: que a imagem pode ser um ataque, que o retrato é um ato de guerra, e que, na era dos filtros e dos sorrisos falsos, o seu trabalho continua a gritar – seco, ácido, irónico – que a beleza verdadeira ainda dói.
Author: Diogo Vaz Pinto
Published at: 2025-06-28 21:02:55
Still want to read the full version? Full article