Leves lapsos de um brasileiro na Gulbenkian

Leves lapsos de um brasileiro na Gulbenkian


Em declarações ao Expresso, o curador da exposição “Complexo Brasil”, refere o número de “escravizados” levados por Portugal para o território brasileiro, sublinha que “foram três vezes mais do que toda a América Hispânica” — o que, diga-se, peca por defeito —, mas não menciona o número de escravizados que o Brasil já independente importou, como se o Brasil e os brasileiros não fizessem parte dessa equação. É bem certo que o autor afirma que o Brasil foi “a única nação independente que praticou maciçamente o tráfico negreiro” — o que é obscuro ou falso —, e que o território brasileiro foi o “maior agregado político escravista americano” — o que também não é verdade, pois no tempo da Guerra da Secessão viveriam no território da Confederação quase 4 milhões de escravos negros. Em segundo lugar garantir que os 5,8 milhões de escravos negros que foram para o Brasil correspondem a mais de quarenta por cento do total de africanos “mundialmente” (sic) escravizados é olhar apenas para os 12,5 milhões que cruzaram o Atlântico a caminho das Américas e ignorar os muitos milhões que foram escravizados na própria África — só o califado de Sokoto, que era, em parte, na actual Nigéria, teria, no século XIX, cerca de 4 milhões de escravos — e todos os que foram transportados através do Sara, do Mar Vermelho e do Oceano Índico para os estados árabes, o Irão e outras partes do Oriente.

Author: João Pedro Marques


Published at: 2025-11-29 00:20:28

Still want to read the full version? Full article