Lagarde nas entrelinhas: BCE podia ter feito melhor na crise

Lagarde nas entrelinhas: BCE podia ter feito melhor na crise


“Como sabemos, as empresas, de um modo geral, costumam ser mais rápidas a subir os preços do que a baixá-los“, afirmou a francesa, e isso cria um problema para o banco central, que tem como missão manter a inflação em 2% – nem muito acima nem muito abaixo e, sobretudo, nunca estar muito tempo longe dessa meta, porque é a inflação (alta ou baixa) persistente que mais arrisca fazer descarrilar as chamadas “expectativas de inflação”. Um estudo que está a ser terminado, feito por dois economistas do BCE (Kai Christoffel e Mátyás Farkas), calcula que se o BCE não tivesse feito a rápida subida dos juros (entre julho de 2022 e junho de 2023, de -0,5% para 4%), o risco de “desancoragem das expectativas de inflação” teria ultrapassado os 30% – ou seja, houve uma probabilidade de um em três que, caso não tivesse havido um forte aperto monetário, o BCE teria perdido o controlo sobre a inflação e deixaria de ter credibilidade, aos olhos da população e dos agentes económicos, de que teria a capacidade (ou a vontade) de voltar a trazer a inflação para níveis normais. Além de terminar com outra citação de Nietzsche, como forma de sublinhar o compromisso inabalável de Lagarde e de todo o BCE para com a missão que lhes foi atribuída, Lagarde também recuperou uma outra expressão bem conhecida no BCE – a garantia, dada por Mario Draghi em julho de 2012, de que o BCE faria “tudo o que [fosse] necessário” para salvaguardar a integridade da união monetária (uma frase que foi o início do fim da crise das dívidas soberanas, da década passada).

Author: Edgar Caetano


Published at: 2025-06-30 21:38:21

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