O resultado é a epidemia de chefes-de-cozinha e artistas meia-boca que somos obrigados a engolir, de modo que aparentemente a cabecinha oca do pangaré está bem, devidamente resolvida, afagada e festejada pela plateia, pelos pares e pela bosta da autoestima, mas os cheesecakes deles não se distinguem de frieiras apodrecidas; vale o mesmo para a música, a literatura e as “artes” que produzem, só fraude e carniça. É o que faço desde meu primeiro livro, e foi o que pratiquei na oportunidade: dei um retumbante foda-se para o Jardim Ângela e demais periferias; fodam-se a Berrini e a Faria Lima também; a mesma coisa vale para as planícies, planaltos e altiplanos; fodam-se os manos e suas rimas toscas, a cadeia que puxaram e as respectivas biqueiras e quebradas; e fodam-se os mauricinhos e patricinhas; que se dane o espectro político de uns e de outros; fodam-se a Unicamp, a PUC e as peruas da Globo News juntas; fodam-se indistintamente as graças e as desgraças de todos eles. (…) Quero dizer que os anos zero-zero significaram a última golfada de ar puro e liberdade no Brasil, e no mundo, pois na virada do milênio, e até poucos anos depois, a lógica de Steve Jobs e dos nerds de Los Altos, e os manuais de boas maneiras, as patrulhas, o ódio, a revanche, e a falta de talento dos millenials***, ainda não haviam emergido das piscinas de bolinhas e dos cercadinhos kids dos shoppings e praças de alimentação — à época frequentados pelos mesmos, ainda bebês.
Author: Carlos Willian Leite
Published at: 2025-11-30 17:50:01
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