Se a elite nazi, nos serviu amplos exemplos de que a miséria moral pode conviver perfeitamente com o prazer estético, e se na época não foram poucos os intelectuais que secundaram ou não reprimiram um certo fascínio com esse desencadear súbito da acção que o fascismo trouxe à Europa, hoje, e em retrospectiva, percebe-se também como, desde então, tem havido um olhar sobre a História e o passado que se constrói como uma denúncia que chega tão tarde como se comove ou encoleriza desnecessariamente, parecendo retirar um certo prazer estético dessa frívola forma de indignação. Por sua vez, Borges entende que Hitler foi, de certo modo, o efeito de uma convocação histórica, entendeu que, com ele, de certo modo se dá um exacerbamento das pulsões de uma cultura (a Ocidental) tendente ao domínio, ao exercício de uma força imperial, e que, nos seus momentos de crise, se entrega a um efeito de paranoia. E voltamos a Gombrowicz, que talvez tenha explicado melhor do que ninguém como um irascível complexo de inferioridade num encadeamento propiciado pelo próprio sentimento de impotência que corroía intimamente os povos europeus foi o que permitiu desencadear toda aquela dinâmica de devastação, a qual, no fundo, estava já engatilhada no próprio complexo civilizacional, que apenas espreitava a possibilidade de se manifestar da forma mais desavergonhada, livrando-se de todos os complexos para manifestar o seu apetite de destruição.
Author: Diogo Vaz Pinto
Published at: 2025-04-30 13:29:55
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