E talvez seja mesmo só isso — uma hipótese que Murakami ensaia há mais de quatro décadas, como quem volta para a mesma casa todas as noites sabendo que ninguém mais mora lá, mesmo assim acende as luzes, faz café, ouve discos antigos, escreve cartas que não envia. É mais como um loop com pequenas falhas, uma agulha que desliza no sulco de um vinil gasto e repete o trecho de um jazz estranho com ligeiras diferenças: o mesmo acorde, mas mais cansado; a mesma frase, só que dita por outra boca, em outra estação. O que significa estar vivo num corpo que envelhece, que sente saudade de coisas que não aconteceram, que ama pessoas que já foram embora antes de existir.
Author: Marcelo Costa
Published at: 2025-06-21 20:37:39
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