Neste meio século, marcado pelo golpe militar de Abril de 1974, pela deriva radical que se lhe seguiu, pela consequente hegemonia do pensamento de esquerda, mesmo entre os partidos à direita do PS, e por uma cultura instalada em que a informação supera de longe a formação, procurar trazer alguma racionalidade e contextualização, por básica que seja, ao inflamado debate político sobre Esquerda e Direita é uma pretensão irrealista. Em 1974, o Partido Comunista Português não era visto como a sucursal de um partido que oprimia ditatorialmente, há meio século, a Rússia e grande parte da Europa Oriental; um partido com polícia secreta, campos de concentração e de morte para os dissidentes e milhões de vítimas; um partido que instalara, em nome da justiça social e do desenvolvimento, um regime que oprimia e empobrecia as pessoas e os povos, que não funcionava e que já dera provas provadas que não funcionaria nunca. Longe vão os tempos em que era a Esquerda que dominava a edição e as revistas de pensamento e cultura, e a Direita, então no poder – um Estado Novo decadente que se fiava na televisão para difundir o que queria e na censura para expurgar o que não queria –, que descartava como fake news de redes sociais elitistas para grupos irrelevantes esses outros caminhos menos sistémicos.
Author: Jaime Nogueira Pinto
Published at: 2025-07-11 23:20:48
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