Filipe Guerra. Um tradutor de ouvido sempre no chão

Filipe Guerra. Um tradutor de ouvido sempre no chão


Mas é sem dúvida nesse sedimento que fica no idioma, no modo como culturas e épocas diversas exploram diferentemente a linguagem, que podemos recolher sinais das relações estabelecidas entre a palavra e o objeto, o sentido e a profundidade a que isso nos fica, como pedra branca no fundo do poço, impregnando a consciência que fazemos do mundo, e do nosso lugar nele. «A escrita arde negra como o sangue», diz-nos o poeta e tradutor húngaro István Bella, num poema que dedica a Mandelstam, e em que assume a sua voz: «Eu não tanjo a lira, mas a corrente;/ Como correntes chocalham as minhas cordas vocais,/ ou como as estrelas lá em cima,/ mundos forrados de ferro a gravitar,/ terras agrilhoadas,/ como o meu coração. A partir de 1994 dedicou-se exclusivamente à tradução literária a partir do russo, e ainda que tenha assinado cerca de 40 títulos individualmente, e até de outras línguas, como o francês, o espanhol e o italiano, é o legado conjunto do casal que irá marcar de forma duradoura a receção da literatura russa em língua portuguesa.

Author: Diogo Vaz Pinto


Published at: 2025-07-12 14:57:47

Still want to read the full version? Full article