Em 1970, um escritor ergueu a espada e abriu o próprio ventre para provar ao seu país que a palavra ainda podia matar

Em 1970, um escritor ergueu a espada e abriu o próprio ventre para provar ao seu país que a palavra ainda podia matar


“O Mar da Fertilidade” ergueu quatro pilares: “Neve de Primavera”, de 1968; “Cavalos em Fuga”, de 1969; “O Templo da Aurora”, de 1970; “A Queda do Anjo”, de 1971, uma publicação póstuma cujo capítulo final recusa a existência de uma personagem e apaga, no plano literário, o que havia sido construído nas páginas anteriores. As imagens de Eiko Hosoe, em “Barakei (Ordeal by Roses)”, acrescentavam uma camada dupla, de arquivo e de cena: o slipcase rangendo ao sair da luva, o papel sedoso devolvendo a luz, a tiragem numerada a lápis; a encenação explícita do pacto entre o fotógrafo e o modelo. O itinerário daquele dia cabia em uma respiração: a editora ainda com o corte do papel fresco, a chancela seca na palma, a saída para Ichigaya, o portão que se abre, a galeria de cal fria, o gabinete de madeira pesada, o passadiço, a voz no vento sem eco, o retorno à sala, o ritual antigo fechando a página.

Author: Carlos Willian Leite


Published at: 2025-10-10 23:55:35

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