Sua chegada à Casa Branca ocorre em meio a uma série de incertezas geradas pelas declarações polêmicas que disparou antes mesmo de vencer as eleições presidenciais.Trump já falou em anexar o Canadá, publicou um mapa com o território do Canadá anexado aos EUA, ameaçou comprar a Groenlândia, ainda que a Dinamarca não queira vender, defendeu aumentar a contribuição dos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) de 2% para 5% e ameaçou taxar os países do BRICS em 100%, caso não desistam de uma moeda alternativa ao dólar para transações entre seus integrantes.Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas analisam quais ameaças disparadas por Trump correm o risco de serem concretizadas e se ele pode, eventualmente, voltar a sua mira para o Brasil.Thiago Rodrigues, professor de relações internacionais do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (Inest/UFF), afirma que a retórica de Trump sempre traz consigo uma ideia de que os EUA são uma grande vítima de vários complôs ou articulações globais, que vão desde tentativas de destruição da indústria americana pelos chineses até questões geopolíticas que ameaçariam os EUA, como questões no Ártico, na Rússia e na Europa.Ele acrescenta que, em paralelo, Trump se fortalece por um apoio interno além do tradicional, que inclui um conjunto de magnatas do chamado "novo capitalismo", como Mark Zuckerberg e Elon Musk, que, segundo ele, de forma muito oportunista se aproximaram dele e pegaram carona em seu discurso.Rodrigues afirma que atualmente a China cumpre o papel de "inimigo crível" para a população americana, por ser um grande país, com grandes recursos tecnológicos e um Estado forte.Há uma expectativa de um encontro em breve entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putin. O Zelensky e os ucranianos vão ter que se conformar com o que eles têm e a gente acaba essa guerra agora, a gente faz algum tipo de compensação para a Ucrânia'", diz o analista.Segundo ele, é provável que Trump exija alguma garantia de que a Ucrânia não seja incorporada, de fato, ao sistema europeu da OTAN e à União Europeia (UE).Roberto Goulart Menezes, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB), considera que a China será a questão central no primeiro ano do novo mandato de Trump. Ele destaca que o país asiático alcançou um superávit comercial em 2024 de quase US$ 1 trilhão (cerca de R$ 6 trilhões).Ele lembra que as políticas que Trump adotou para conter Pequim em seu primeiro mandato foram mantidas na gestão Biden, e diz que "o governo Trump, é claro, tende a mantê-las e fazer ajustes no sentido de aumentar a pressão contra a China".O especialista afirma ainda que a América Latina "não será poupada" da "política externa agressiva" de Trump, e é esperado um aumento de pressão, principalmente sobre Cuba e Venezuela.Ademais, ele aponta que a mira de Trump pode, sim, se voltar ao Brasil, apesar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, afirmarem que o Brasil se relacionará bem com a gestão Trump assim como se relacionou bem com a gestão de George W. Bush (2001-2009).Sobre a questão do financiamento ucraniano, Menezes destaca que os EUA já colocaram mais de US$ 200 bilhões (cerca de R$ 1,2 trilhão) de dólares na Ucrânia e que Biden implicou os EUA no conflito, o que a gestão Trump considera que é algo que pode ser revisto.Já em relação ao Brasil, Menezes afirma que é provável que Trump cancele o apoio de US$ 500 milhões (cerca de R$ 3 bilhões) prometido por Biden ao Fundo Amazônia.
Author: Rádio Sputnik
Published at: 2025-01-20 19:50:49
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