Por mais distante que esteja da aberração inglesa, que condicionou um tal reconhecimento ao cessar-fogo, degradando numa penada o Reino Unido, Israel e o próprio Estado da Palestina, além da entorse das vetustas e prudentes tradições diplomáticas por via da chantagem em público; por mais distante que esteja do voluntarismo delirante de Macron (delirante, mas com boas razões económicas e eleitorais), a posição do governo português labora nos mesmos erros fundamentais. Com a indisfarçável sonsice de quem sabe muito bem o que está a dizer, estas duas linhas responsabilizam Israel pela situação humanitária – sem sequer sentir a necessidade de recorrer à falsa simetria e à falsa equidistância −, caucionando a propaganda implacável do Hamas, cujo êxito em grande parte das opiniões públicas, e ainda mais nas opiniões publicadas, não pode ser escamoteado. Qualquer que venha a ser o desfecho de toda a situação, o simples facto de o problema ser equacionado nestes termos é já uma vitória do Hamas.
Author: João Tiago Proença
Published at: 2025-08-02 23:13:07
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