Trump é tão religioso quanto um louva-a-deus: não dá mostras de ter a mais remota familiaridade com a Bíblia (ver capítulos “O Messias” e “O estudioso das Sagradas Escrituras” em Donald Trump pelas suas próprias palavras) e a sua vida tem sido mais guiada pelo instinto predatório do que pelos ensinamentos de Cristo, mas está agudamente consciente de que a pose santimoniosa, com as mãos postas em oração, lhe granjeia o apoio de muitos eleitores (ver capítulo “A farsa da devoção” em Donald Trump: A verdade de quem diz 21 mentiras por dia). O apoio a políticas de imigração permissivas faz parte de um conjunto de posições, assumidas durante o pontificado de Francisco, que a moderna extrema-direita interpreta como inovações de inspiração woke ou marxista: a apologia de políticas de redistribuição de rendimentos (como o rendimento social de inserção e outras formas de subsidiação dos mais pobres); a relativa abertura da Igreja face à comunidade LGBTQ+; a promoção do diálogo com outras religiões; o reconhecimento público de que nem tudo na longa história da Igreja foi isento de erros. Como vimos, há quem, na extrema-direita europeia, invoque o ensinamento de Cristo em Mateus 22:21 – “dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” – para dissuadir as autoridades eclesiásticas de se pronunciarem publicamente sobre assuntos que a extrema-direita entende serem da esfera exclusiva da política, como sejam a imigração, a justiça social ou a assistência aos mais necessitados, e em que a Igreja tem, nos últimos anos, tomado (genericamente) posição contrária à da extrema-direita.
Author: José Carlos Fernandes
Published at: 2025-07-19 10:08:48
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