Através dos filmes de Hollywood, das séries televisivas, dos comic books, dos produtos emblemáticos da sua indústria alimentar (com a Coca-Cola à cabeça), do desporto (sobretudo o baseball), da música pop, do jazz, das Selecções do Reader’s Digest, das universidades e de uma infinidade de outros produtos, artefactos e instituições culturais (no sentido mais amplo do termo); através de abstracções como a liberdade de expressão e a democracia (dois domínios em que os EUA tinham sido pioneiros) e o “American dream” e a “Terra da Oportunidade”; e através de programas internacionais de assistência financeira (a começar pelo Plano Marshall, em 1948) e humanitária (nomeadamente com a USAID, fundada em 1961), os EUA conseguiram, sem necessidade de recorrer a canhoneiras nem a porta-aviões, trazer povos e nações para a sua órbita – ou, pelo menos, impedir que fossem atraídos para a órbita da URSS. Uma prova adicional da incongruência e inconsequência da actuação de Trump no domínio do comércio internacional está no facto de, apesar de, desde 2016 (pelo menos), acusar repetidamente a China de “vigarice” e “manipulação” nas suas relações comerciais com os EUA, só no segundo mandato, a 2 de Abril de 2025, assinou uma ordem executiva (que entrou em vigor a 2 de Maio) extinguindo a chamada “de minimis exemption”, uma disposição que isentava de taxas alfandegárias encomendas com valor inferior a 800 dólares que entrem nos EUA e que, com o aumento da popularidade do comércio online, se transformou na porta de entrada para um avassalador volume de artigos low cost fabricados na China. Assim sendo, é legítimo suspeitar, por exemplo, de que o ataque americano às instalações nucleares iranianas terá sido menos o resultado de uma ponderosa deliberação sobre a ordem política global, do que uma demonstração de força destinada a fazer esquecer a decepcionante parada militar que teve lugar a 14.06.2025, em Washington D.C., para comemorar o 250.º aniversário do Exército americano e (por coincidência) o 79.º aniversário de Trump, em relação à qual Trump alimentara grandes expectativas e que acabou por ser uma cerimónia fruste, enfadonha (como atestam os rostos de Trump e da sua comitiva), destituída de grandiosidade, que suscitou uma modesta afluência de público e que deixou Trump ficar mal perante os outros grandes machos-alfa da política mundial, Vladimir Putin, Kim Jong-un e Xi Jinping.
Author: José Carlos Fernandes
Published at: 2025-07-06 13:25:15
Still want to read the full version? Full article