A cena com Udo Kier, em que um alfaiate judeu é tomado como um combatente alemão da Segunda Guerra por um delegado, por exemplo, soa totalmente falsa, assim como há algo de artificial em todo o trecho em que uma mulher rica vai depor em um caso em que é acusada de negligência enquanto tomava conta do filho de sua faxineira. E a melhor de todos é Tânia Maria, uma senhorinha pequena, septuagenária, com a voz rascante de quem fumou a vida toda (não larga o cigarro há 60 anos, segundo o filme), que interpreta a mulher que dá abrigo a Armando quando está em fuga. O problema é que, da forma como Ramsay nos apresenta a situação, Grace não é em quase nada uma vítima; a única real opressão conjugal que ela sofre é ter que cuidar do filho sozinha, e em termos sociais nunca a vemos ser de fato silenciada ou diminuída – ao menos, não de um modo que pudesse justificar a agressividade de muitos dos seus comportamentos.
Author: Amanda Massuela
Published at: 2025-05-18 21:22:53
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