E aí parece que o clichê do divisor de águas vem mesmo a calhar: críticos da época chegaram a chamar o projeto de "uma bacia hidrográfica" em forma de MPB, por conseguir misturar de forma líquida, com requintes de homogeneidade, variados elementos da sonoridade afro com a bossa nova que se fazia sobretudo no Rio de Janeiro e reinava como o suprassumo do status quo cultural brasileiro. Achou que o berimbau era instrumento que muito bem se encaixaria na música contemporânea que ele buscava e percebeu um repertório de sons, de sintaxe e de semântica no mundo dos terreiros afrobrasileiros que merecia e precisava ser disseminado em forma de MPB. Tal e qual os antropofagistas do modernismo, ele usaria o conhecimento clássico de música herdado da Europa para dar vazão às riquíssimas musicalidades africanas. "Se a valorização dessa herança foi capaz de lançar luz sobre grupos e tradições até então marginalizados, o passo seguinte é ampliar o olhar para outras culturas silenciadas, de modo que a canção popular continue a cumprir sua função de espelho e de abertura para o diverso, de diálogo entre o particular e o universal."
Author: Edison Veiga
Published at: 2025-10-01 17:20:00
Still want to read the full version? Full article