Análise: EUA querem impor ao mundo nova guerra às drogas 'travestida de combate ao terrorismo'

Análise: EUA querem impor ao mundo nova guerra às drogas 'travestida de combate ao terrorismo'


O governo brasileiro informou ao chefe interino da Coordenação de Sanções do Departamento de Estado dos EUA, David Gamble, que não classifica as facções criminosas brasileiras Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) como grupos terroristas.Enviado pelo governo norte-americano ao Brasil com a missão de questionar o governo brasileiro sobre o tema, Gamble e sua comitiva se reuniram na semana passada com técnicos do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que expressaram a posição do Brasil.O envio de Gamble ao país é mais uma tentativa de Washington de pressionar o Brasil para seguir a diretriz norte-americana anunciada pelo governo Trump que, poucos dias após tomar posse, afirmou que classificaria facções do narcotráfico mexicano como organizações terroristas.Apesar da pressão norte-americana, "o que faz uma organização criminosa ser classificada como terrorista é o fato de ela ter uma motivação ideológica, política ou religiosa", aponta José Ricardo Bandeira, presidente do Instituto de Criminalística e Ciências Policiais da América Latina (Inscrim) à Sputnik Brasil.Via de regra, esses grupos praticam atentados contra as instituições do Estado e, também, contra a população civil, detalha o perito em criminalística e criminologia.Conforme explica Bandeira, membro ativo da Associação Internacional de Polícia (IPA, na sigla em inglês), o governo dos Estados Unidos tem a liberdade e autoridade para classificar, dentro de seu território, essas organizações brasileiras como terroristas.No entanto, isso não confere à Casa Branca liberdade para combatê-las dentro do território brasileiro. Ou seja, em termos reais, isso não terá "nenhum efeito prático dentro do território nacional".O antropólogo Robson Rodrigues, pesquisador do Laboratório de Análise da Violência (LAV) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e coronel da reserva da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, enfatiza que a linha que separa segurança pública de terrorismo é tênue. Mais do que abrir espaço para divergências na forma em que cada país trate do tema, essa área cinzenta auxilia Washington em sua busca por ampliar o consenso do que é o terrorismo.Iniciada pelo presidente norte-americano Richard Nixon, em 1971, a chamada guerra às drogas "gerou muito mais problemas do que solução para o campo da segurança pública", diz o especialista.

Author: Melissa Rocha


Published at: 2025-05-14 19:10:00

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