Unidos num feixe de ferros e de vontades, os portugueses que naquele campo de Aljubarrota esperavam o invasor – os nobres e os pobres, os das cidades e os dos campos, os senhores e a arraia-miúda – eram ali os fiéis da independência de Portugal. Teriam consciência disso, aqueles homens, na sua maioria jovens, chefiados por um rei de vinte e sete anos e por um condestável de vinte e cinco; aqueles fidalgos moços, filhos segundos e bastardos; aqueles escudeiros e cavaleiros bisonhos, criados em castelos austeros, alheios ao conforto e à civilização da França e da Itália e à riqueza e ao poderio de Castela? E mediriam o que ali se jogava os soldados profissionais, os homens de armas, naquele seu estatuto intermédio de profissionais de guerra, algures entre os senhores e os vilões, ao escolher, antes do combate, a lança, a espada, a adaga, a acha, a maça, ou o chicote de armas; E os besteiros dos concelhos, vindos de longe para ali com a milícia da terra, ao lado dos archeiros ingleses, com os seus imponentes arcos de dois metros; E aquelas levas do recrutamento local, de camponeses e portugueses do Oeste, iguais aos de sempre – alguns de olho claro e com caras talhadas e secas, outros, a maioria, escuros, quase magrebinos, de tronco curto, pescoço largo, braços poderosos, docilidade para com os chefes, irmandade agressiva perante iguais, raiva aos estranhos?
Author: Observador
Published at: 2025-06-10 18:09:31
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