A ver navios desde 1820

A ver navios desde 1820


“Com as carreiras do Brasil muito reduzidas [pela independência da colónia em setembro de 1822], a frota mercante de vela entrou em declínio, a par da introdução dos vapores, para cujo apoio demorou a formação de tripulações adequadas e a edificação de infraestruturas que possibilitassem a construção e as reparações dos navios, obrigados a irem beneficiar a Inglaterra, de onde vinha o carvão para as caldeiras e os engenheiros para as máquinas”, lê-se na p. 19, e — para que não sobrem dúvidas ou ilusões — no início do escrito de Correia e Reis. Consideram também que a política de regresso ao mar expressa pelo Ministro da Marinha de 1944 a 1958, o então comandante Américo Thomaz, no Despacho n.º 100, de 10 de Agosto de 1945 (isto é: oito meses após o fim do conflito), com preferência dada a estaleiros nacionais na construção de uma nova frota mercante de 70 navios, entre paquetes, petroleiros, cargueiros e navios de cabotagem, venda de 40 unidades antigas, criação dum Fundo de Renovação da Marinha Mercante e reforço do ensino da especialidade, deu resultados que justificam o título capitular de Os Anos de Ouro. Estas duas glórias da marinha mercante, que fizeram cruzeiros e périplos de turismo por vários continentes — e eram “autênticas galerias flutuantes de arte contemporânea” (p. 117), um aspeto infelizmente não desenvolvido neste livro, dado o elenco dos artistas envolvidos —, tiveram vida curta (menos de duas décadas), e atribulada, como cargueiros de tropas (além dos outros 23 requisitados), figurando numa miríade de imagens fotográficas e cinematográficas do embarque e desembarque de jovens militares forçados a combater nas chamadas guerras coloniais ou de libertação (não lhes coube já trazer para Lisboa os milhares de angolanos e moçambicanos forçados a sair da sua terra natal após as independências de 1975).

Author: Vasco Rosa


Published at: 2025-04-05 16:31:56

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