O milagre económico chinês permitiu a ascensão à classe média-alta e alta de largas dezenas de milhões de cidadãos, que, varrendo os austeros preceitos do maoísmo para debaixo do tapete, canalizaram boa parte dos seus rendimentos para a exibição de sinais exteriores de riqueza – e, em particular, para a aquisição de peças de vestuário das marcas ocidentais do segmento de luxo: em 2023, as marcas de luxo mais populares na China foram Dior, Louis Vuitton, Gucci, Chanel e Prada, de acordo com o Compass Luxury Index da agência ReHub, que mede a popularidade das marcas através da frequência de menções nas redes sociais chinesas. É frequente que o comprador online de artigos de moda fique decepcionado com o aspecto e a qualidade do artigo face às imagens exibidas no website, que conclua que a medida que escolheu é demasiado grande ou demasiado pequena, que conclua que o artigo é desconfortável ou pouco prático, ou lhe “cai mal”, ou não combina bem com a cor da sua pele ou dos seus olhos, discrepância que tende a acentuar-se num tempo em que os modelos nas passerelles e nos anúncios são cada vez mais jovens e cada vez mais esculturais (e têm as suas qualidades naturais exacerbadas por fotógrafos profissionais e por um minucioso trabalho de retoque, “polimento” e filtragem das imagens) e o corpo do cliente médio é cada vez mais obeso, flácido e disforme (para o que contribuem as muitas horas passadas frente a écrans, nomeadamente a fazer… compras). Não terá sido coincidência que a aprovação desta legislação na Assembleia Nacional tenha tido lugar dois dias depois de Emmanuel Macron ter atribuído a Grão-Cruz da Legião de Honra (a mais alta condecoração da República Francesa) a Bernard Arnault, fundador e director executivo do grupo de luxo LVMH (ver capítulo “Louis Vuitton” em Paris, capital da moda), e dois meses depois de Arnault se ter alcandorado à posição de homem mais rico do mundo, com fortuna estimada, à data, em 230.000 milhões de dólares, suplantando, efemeramente, o anterior detentor do “título”, Elon Musk, que, em Março de 2024, valia “apenas” 180.000 milhões de dólares (como é sabido, poucos meses depois Musk entrou para a órbita de Donald Trump e do movimento MAGA e viu a sua fortuna pessoal subir até aos 428.000 milhões no final de 2024, para tombar, com igual rapidez, para 305.000 milhões de dólares – a 16 de Março de 2025).
Author: José Carlos Fernandes
Published at: 2025-04-05 10:14:31
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