Num momento em que recrudesce um pouco por toda a parte o tipo de nacionalismo virulento e de racismo que ajudaram a preparar o terreno para a II Guerra Mundial, e com a emergência climática a aumentar as tensões, é essencial recordar o verão em que passámos a viver debaixo de um céu escatológico. Foi então que os EUA viram a oportunidade de reclamar um feito de ordem épica, estavam dominados por uma garrulice e fanfarra heroica, depois de uma vitória moral e militar sobre as potências do Eixo que, na verdade, inspiraram o melhor período da sua influência no mundo, uma esperança que veio a instigar ousadas reformas sociais e económicas, mas tudo isso dependia de um sentimento de orgulho, o qual dependia de não puderem ser aproximados a Hitler na disponibilidade para cometer atrocidades sobre os seus inimigos. Retomando o debate lançado pelo livro de Karl Jaspers A Bomba Atómica e o Futuro da Humanidade, ao qual vem a impor uma série de reservas, Agamben admite que, “se no passado, como sucedia nos primeiros tempos das comunidades cristãs, os homens elaboravam ‘representações irreais’ de um fim do mundo, hoje, pela primeira vez na sua história, a humanidade possui a ‘possibilidade real’ de se aniquilar a si própria e a toda a vida sobre a terra”.
Author: Diogo Vaz Pinto
Published at: 2025-08-09 12:43:43
Still want to read the full version? Full article